If you've been following my words, thanks a lot. I really appreciated writing Historias da Lawrence University and I definitely learned a lot. Now let me introduce you to my new blog: Rebecca Carvalho. I hope I'll see you there.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Capitulo 21 - Qual eh o significado da nossa amizade?!


A Britta eh a minha colega de quarto na Lawrence University. Foi amizade a primeira vista - uma dessas parcerias que so o destino saberia explicar. Como eh que de repente duas pessoas que nunca haviam se visto na vida acabam tendo que dividir o mesmo apartamento na faculdade e, ora vejam so, se dao tao bem desde o primeiro dia.

Como boas colegas de quarto dividimos quase tudo - comida, tristezas, e alegrias. Dividimos, inclusive, gripes. Essa semana a Britta desceu do primeiro andar (como eu chamo a cama de cima do beliche) e me encontrou enfiada em tres camadas de cobertas.

"Eu nao me sinto muito bem...", anunciei, notando minha propria garganta seca. Ela perguntou se eu queria que ela trouxesse o meu almoco, mas optei por levantar e espantar a doenca para longe. O fato eh que acabou respingando nela.

O quarto 314 do Ormsby Hall acabou se tornando um antro de virus. Sanjay, que eh um desses amigos que ja entram sem bater, passou a lavar as maos cada vez que tocava em alguma coisa. "So ando com voce na semana que vem!", exclamou ele, um dedo apontado para mim, como se eu estivesse carregando a propria peste bubonica.

A verdade eh que ele anda tao aterrorizado em adoecer que comecou ate a evitar a Britta, sua melhor amiga e colega do conservatorio de musica. Ontem ela abriu a porta do quarto de sopetao, um envelope na mao, e a expressao mais ofendida que eu ja vi.

"Olha so o que eu encontrei!", e estendeu-me um envelope. "O Sanjay com medo de subir aqui fica colocando mensagens na nossa caixa de correio! Hoje quando ele me viu no refeitorio deu um pulo para tras dizendo que nao iria falar comigo. Olhei bem para ele e perguntei afinal de contas, qual eh o significado da nossa amizade?!".

Sera que entre melhores amigos tambem vale o tal de "...na saude e na doenca"? Pelo visto no Ormsby Hall segue a ideologia amigos, amigos - gripes a parte.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Capitulo 20 - Carnaval nos Estados Unidos


Por conta de pessoas como a Marina eu continuo escrevendo. Ela eh uma dessas parentes da familia Jovens Embaixadores que, por uma gentileza real, para a ler tudo o que escrevo por aqui. E de onde vem tanta paciencia para me ouvir relatar todas as historias sobre as araras do zoologico de Madison; os trolls no corredor do subsolo do Ormsby Hall; o primeiro dia de neve...? Eu nao sei - mas agradeco o carinho e o reconhecimento. Portanto, Marina, continuarei escrevendo. Obrigada!




E qual eh a novidade de hoje?

Eh Carnaval na Lawrence! Ou melhor... eh Mardi Gras. Na semana passada chegaram colares de contas coloridas pelos correios. Quando entrei no quarto certo dia apos uma aula encontrei dois colares: Um verde e um rosa - ou seja, um para mim e outro para a minha colega de quarto, Britta. Qual eh a minha cor preferida..?! Sim, eh claro que fiquei com o verde, e em vez de usa-lo como colar encontrei outro uso para ele: Enrolado no meu pulso direito tornou-se uma boa pulseira, acredite ou nao.


A noite, por volta das 9:30, fui para o predio Memorial Union curiosa para entender como o Carnaval era comemorado nos Estados Unidos. Segui com tres camadas de vestes, e o cachecol bem proximo ao pescoco, pois embora a Primavera esteja se aproximando parece que o Inverno eh o unico que ainda nao sabe disso.


Ao entrar no Memorial Union os meus timpanos foram surpreendidos pelo som incomum de uma banda tocando num salao que chamamos de Riverview Lounge (e ele realmente tem vista para o rio Fox), de onde normalmente se escuta o ritmo [para mim inconfundivel] de um estilo musical chamado swing. Ao longo do corredor duas mesa repletas de alunos veteranos vestindo camisas amarelas na qual se lia "Mardi Gras". Numa delas estavam vendendo (?) colares de todas os tipos - porque aparentemente eles sao altamente necessarios caso voce decida celebrar o Mardi Gras (...e eu que transformei o meu em pulseira...). Noutra mesa li "Margaritas", e achei extremamente confuso o fato de estarem vendendo bebidas alcoolicas - mas no fundo acho que era apenas uma versao nao-alcoolica, ja que nao havia ninguem checando identidades.


Atravessei o portal do Riverview Lounge, repleto de fitas brilhantes coloridas, e que para o meu espanto transformara-se num verdadeiro cassino. Jogos de cartas, e outras formas de aposta de toda sorte - embora nao houvesse ninguem apostando nada, apenas testando a propria sorte. Logo adiante uma banda inteira de senhores vestidos de vermelho em branco. Olhei ao redor pensando "Entao eh assim que eles celebram o Carnaval por aqui...?". Por um segundo troquei as mesas, onde aqui e ali identificava-se um garoto vestido de mulher (...?!), por um bom ritmo de percussao e gente fazendo passos de frevo e samba.


Um pouco desapontada (e ligeiramente gripada) decidi voltar para o dormitorio. Uma plaquinha indicava que a comemoracao seguia no subsolo: Pinturas Faciais / Casamentos / Cartomante. Desci as escadas e a primeira coisa que vi foi um colega da classe de Arabe II se casando com a namorada diante de um altar conduzido por alunos - as aliancas que ambos receberam foram aneis com um confeito vermelho na ponta em formato de coracao. Ate ganharam um certificado oficializando a data.


Seguindo a direita havia uma banda de jazz tocando para umas poucas pessoas sentadas em mesas redondas e colorindo mascaras. Reconheci a maioria como garotas que moram no mesmo andar que eu no Ormsby Hall. Ninguem estava muito interessado na banda - porem, verdade seja dita, ate que eles eram muito bons!


Segui a esquerda e encontrei uma sala de estar com uma mesa de sinuca - porem, mais interessante, encontrei uma mesa redonda na qual um rapaz metido em vestes de mago fazia previsoes com cartas. Estava usando uma marcara negra, e de qualquer modo nao reconheci-lhe a voz - mas devia ser um aluno da Lawrence com um certo conhecimento sobre a arte de ler o futuro em cartas. Sentei-me num sofa diante dele, observando como conduzia a leitura - ele olhou para mim e eu sustentei o olhar. "Vamos ver se voce sabe o que esta fazendo ou nao" - nao pude deixar de pensar, e receio que ele tenha lido os meus pensamentos.


Com o tempo deixei de incomodar o cartomante com o meu olhar fixo, e permiti-me pensar em outras coisas. Lembrei do Michael me dizendo que em Madison ele escutara que na State Street um dos bares estava planejando uma tematica brasileira para o Mardi Gras - lamentei com os meus botoes que eu nao pudesse ir ate ele, ou que ele nao estivesse em Appleton para ver que tinhamos ate um cartomante!


Deixei a sala do cartomante me sentindo ligeiramente febril, e retornei ao dormitorio. Os sintomas da gripe vao e voltam, e eu sigo com a vida normalmente porque nao posso simplesmente enterrar-me na cama ate que esteja totalmente melhor. Pergunto-me, no entanto, o que o cartomante teria me dito caso eu tivesse me submetido a sua consulta...


...nunca saberei.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Capitulo 19 - As Araras do Zoologico de Madison, WI

O Michael sempre soube da minha paixao pelos animais, e do quanto eu sinto falta dos meus cinco gatos que ficaram no Brasil. Na Lawrence so temos permissao para criar peixes, e so apos aprovacao da sindica do dormitorio. Peixes, como todos sabem, nao gostam muito de ser afagados - para a minha tristeza.
No dia seguinte a festa de Halloween na State Street, ligeiramente comparavel ao Galo da Madrugada em Recife, o Michael e eu levantamos cedo para um tour pela cidade. Conheci a UW-Madison, que eh a universidade onde ele estuda; e outros pontos turisticos. A minha alegria, no entanto, foi o passeio ao zoologico.
Corri de um lado a outro, rindo com ursos polares, e girafas africanas. Pulei de alegria na casa dos repteis, achando tudo muito interessante. Encontrei capivaras, flamingos, e leoes - mas nada se comparou a casa dos passaros, quando encontrei a placa "Passaros Brasileiros".
- Passaros do Brasil! - exclamei, deixando o Michael para tras e correndo a me aproximar das arvores. Os animais gritavam enlouquecidos, meio esganicados, assustando uma garotinha la pelos seus seis anos. "Veja, eles sao bonitos, sabem falar..." explicava a mae dela.
Quando o Michael finalmente me encontrou eu estava certa de que poderia surpreende-lo com a surpresa de passaros falando em Portugues.
- Oi, caras, tudo bem? - exclamei para os papagaios diante de mim.
- Hello - disse um deles. Cruzei os bracos, aborrecida.
- Voce eh brasileiro. Fale em Portugues. POR-TU-GUES. Vamos...
O Michael, ao meu lado, falou em Ingles com o passaro, que prontamente o imitou:
"How are you?".
Decepcionada com os passaros brasileiros, que nao me reconheceram como compatriota, puxei o Michael pela manga da camisa em direcao a saida. Todavia, ja perto da porta, ouvi um grito inconfundivel do bichinho com o qual eu estivera tentando conversar:
- Oi, arara!!!
Dei um pulo de alegria. - Ouviu? Ele falou em Portugues!!!
O Michael so fez rir. E na hora de ir embora, porque meu onibus iria partir de volta a Appleton em 1 hora, praticamente chorei e agarrei-me aos portoes do zoologico (nao, isso nao aconteceu - mas nao faltou vontade) como se crianca fosse outra vez.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Capitulo 18 - A Chuva

Ha umas duas semanas o Michael veio me visitar. Engracado encontra-lo me esperando sentado na biblioteca do predio de Humanas, onde eu estava na minha aula de Arabe. Ve-lo entre todos aqueles quadros com fotografias dos meus caros Lawrentians da turma de 1800-e-la-vai quase o fez parecerer como um dos nossos.

Fomos assistir a apresentacao de tres bandas, e no retorno ao campus comecou a chover. Coloquei o capuz do casaco na cabeca, e ele ficou olhando para o ceu, aborrecido com S. Pedro.

- Ah, chuva. Eu detesto quando chove! - resmungou.

- Por que? - perguntei, imediatamente lembrando da minha chuvosa Recife.

- Porque... porque...

Ele estava sem palavras. Decidi dar uma ajudazinha indicando a razao mais obvia para tamanho desagrado com as nuvens cinzentas.

- Porque arruina o meu cabelo.

- Isso! Eu detesto a chuva porque arruina o seu cabelo - e sorriu um daqueles queridos sorrisos largos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Capitulo 17 - Andando Pateticamente




Na vida a gente conhece umas pessoas que acabam inspirando a gente. Aqui na Lawrence nao foi diferente. Quando eu vi o Sanjay Seth pela primeira vez eu sabia que ele se tornaria um grande amigo, mas no fundo nao fazia ideia da diferenca que ele faria na minha vida.


Certa vez, antes de voar para o Texas, ele me disse:


"Rebecca, va fazer alguma coisa com a qual voce nao se sentiria totalmente confortavel, como cantar. Va ter uma aventura!".


Naquela noite voltei para o meu quarto e pensei com os meus botoes. E nao eh que ele esta certo! Eu seguiria o conselho do meu amigo e voltaria no tempo para a epoca em que eu me descobrira escritora. Inspirada pelas palavras do Sanjay comecei a escrever o livro que daqui a alguns dias submeto a publicacao no Brasil.


Hoje a noite, voltando do refeitorio com ele, o Sanjay teve a ideia de criar uma nova modalidade de caminhar. "Isso, vamos andar de maneira patetica!", disse ele, iniciando uma coreografia definitivamente digna dos zumbis do Michael Jackson em Thriller -- e depois trocando para ares de Hugh Grant em Love Actually.


Quem me conhece bem sabe que eu segui rindo, preocupada com toda a atencao que ele estava chamando no caminho para Ormsby (sim, moramos no mesmo dormitorio), mas afinal de contas la estava mais um ensinamento do americano filho de indianos.


Por que se preocupar tanto com o julgamento alheio?


...ate arrisquei o passo "corrida de obstaculos imaginaria", mas de maneira muito comedida. Ai, ai... ainda tenho muito o que aprender.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Capitulo 16 - Aprendendo Sobre Eu Mesma

A vida na Lawrence eh bastante corrida. Nao que tenhamos vinte atividades para realizar num so dia (..e, as vezes, sim). A verdade eh que, por morarmos na instituicao, as aulas exigem bem mais do que o contexto sala de aula. Aprender numa manha nao eh suficiente -- os professores nos informam os horarios em que estarao nos escritorios deles para que possamos ir discutir assuntos inacabados, ou buscar consultoria em algum projeto ou redacao. Eh uma atitude altamente encorajada por aqui.
Os professores tambem passam muito tempo conversando entre si sobre os alunos. Porque nao basta que voce se saia bem na aula de um... precisa ter o mesmo bom desempenho nas classes de todos os outros. A minha adviser na Lawrence eh a professora Hoffmann, professora de Literatura, e a melhor amiga dela eh a professora Barrett, que foi minha professora de Analise Literaria. Certa vez a professora Barrett contou-me que elas duas ficaram ansiosas quando souberam da chegada de uma aluna brasileira ao departamento de Ingles (a prof. Barrett havia sido aluna de intercambio no Brasil ha muitos anos), e que desde entao conversavam muito ao meu respeito. Sobre o que falam eu nao faco ideia. Mas o fato da professora Barrett ter me dito que elas duas me adoram eh um ponto ao meu favor.
Todo o corpo doscente espera muito dos alunos. No outono conheci o professor Verita, que me encara como uma apaixonada pela Lingua Arabe e lider da turma (...e que reclama se eu atraso algum exercicio); tambem tive o prazer de estar na turma da professora Barrett, que me ensinou a escrever novamente, e apresentou-me a Henry James.
No inverno conheci o professor Peterson, que surpreendeu-me por saber o meu nome. Ele deve ter uns setenta anos, e de constituicao fisica me lembra o meu avo Arnaldo. As aulas dele me fazem refletir acerca de mim mesma muito mais que qualquer outro professor ja conseguiu -- eh como se aos poucos eu estivesse redescobrindo a mim mesma, e ele sabe que eu tenho muito a oferecer. Em O Holocausto vou compreendendo nuances da minha propria cultura, e deitando ideias no papel que possuem um significado maior para mim.
"Voce eh judia?", perguntaram-me mais de uma pessoa apos ouvir-me falar sobre o assunto.
Nao... Ou melhor, parte de mim eh. Sei que tenho parentes distantes em Portugal que sao. Sei tambem que pareco-me com eles. Sei que a minha familia eh originalmente judia. E como eu ainda nao havia parado para sentir esse pedaco de mim? Esta ai a razao para a minha imediata identificacao com Anne Frank, quando aos doze anos a li pela primeira vez e nem ao certo sabia o significado da palavra holocausto?
A cada dia vou aprendendo um pouco mais sobre mim mesma...

Capitulo 15 - Pegadinhas de Sabado a Noite


Michael e eu nao moramos na mesma cidade. Estou em Appleton, e ele em Madison - uma viagem de 2 horas de carro. Uma ou duas vezes no mes ele vem me visitar; e passei o Halloween por la.

O fato eh que mesmo ligeiramente distantes ele eh o meu melhor amigo, e a unica maneira que conhecemos de diminuir as fronteiras eh pela internet. Sempre foi assim, na verdade. E embora contemos a todo mundo que nos conhecemos no Marrocos, a verdade eh que num dia de sorte, ha alguns anos, nos conhecemos online -- e, quem diria, eu vim parar numa universidade perto da dele.

Sabado a noite e ambos ocupados. O bate-papo do email ligado para servir como um "Estou aqui caso voce precise de apoio moral". La pelas 10:00P.M. a minha inspiracao ja havia acabado (eu estava escrevendo desde cedo), e ele nao aguentava mais estudar. Decidimos jogar alguma coisa online para relaxar.

Ele encontrou um site com jogos para multiplos jogadores. Era bastante simples -- entravamos no jogo como convidados (Guest 1459, ou Guest 4886, e por ai vai). O Michael escolheu um jogo de cartas, disse em qual sala online estava, e qual Guest era ele para que pudessemos jogar juntos. Segui os procedimentos, jogamos, e eu perdi.

Da segunda vez, aborrecida por um pedido meu que ele nao havia atendido, decidi aprontar com o meu amigo. Uma pegadinha de sabado a noite que na verdade nao foi premeditada, mas surgiu no calor do jogo:

A minha conexao havia caido ou algo parecido, e quando eu retornei a sala de jogos online o Michael nao sabia se era eu. Ele clicou no Guest (que por sinal era eu) no impulso, achando que estava falando comigo -- porem rapidamente compreendeu que poderia estar enganado, e disso tudo surgiu minha ideia.

Ele disse..: ...Becca?

Eu, brincando: Nao, cara.

Ele: Ah, voce deve estar cheio de interrogacoes agora. Foi mal ae!

O Michael ja ia encerrar o jogo com a pessoa que nao era eu (mas era eu, sim). Decidi voltar atras, rindo, e dizer a ele que era eu sim, e que poderiamos comecar o jogo. Mas quem disse que ele entendeu...?

Eu: Nao, sou eu!!!!

Para o Michael foi alguem tentando se passar por mim. Entao disse:

"Nao, nao. Ate logo, amigo!".

Curto e grosso. Deixou a sala de bate-papo do jogo sem ao menos deixar a pessoa se despedir. Eu, evidentemente, tive um ataque de risos. No bate-papo do email expliquei a ele que era eu. "O QUE? ERA VOCE?!!".

Pegadinhas de sabado a noite fazem a minha alegria..! Obrigada, Michael!



domingo, 8 de fevereiro de 2009