If you've been following my words, thanks a lot. I really appreciated writing Historias da Lawrence University and I definitely learned a lot. Now let me introduce you to my new blog: Rebecca Carvalho. I hope I'll see you there.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Inverno em Madison


O inverno chegou em Madison, Wisconsin. Por toda a parte ruas e telhados estao cobertos em neve. O corajoso que se arriscar a andar do lado de fora precisa se proteger contra dois males: (1) O terrivel frio. (2) Guerras de neve.

Se voce esteve acompanhando os jornais leu a noticia de que no dia 09 de janeiro cerca de 3,000 alunos da UW-Madison se reuniram para uma das maiores guerras de bola de neve ja vistas. Dormitorios competiram contra si, e trouxeram consigo baloes d’agua e outros equipamentos para melhor defender as trincheiras. Os ataques duraram 1 hora, com ocasionais feridos (cortes no rosto nao muito serios) levados aos hospitais proximos.

O que voce nao ficou sabendo, no entanto, eh que na noite do dia 08 de janeiro houve uma pre-guerra reunindo uma centena de adoslescentes. Eu estava la, e contarei a voce o que vi:

Nevava ha horas. Eu estivera observando vizinhos ao apartamento do Michael se divertirem do lado de fora com as camadas interminaveis de gelo em flocos que rapidamente formavam paredes brancas por toda a parte. Quando o Michael retornou ao apartamento foi necessario sair outra vez para comprar alguns mantimentos indispensaveis. Ele perguntou se eu queria ir com ele, e apos observar a vida la fora fui tomada pela curiosidade comum aos que nao gostam de se arriscar, mas de certo modo adorariam saber como eh passar por tao nova experiencia.

A maior parte das ruas estavam vazias. Motoristas nao se arriscariam a dirigir com toda aquela neve. Mais tarde naquela mesma noite vi um carro da policia deslizar de maneira perigosa, e entendi melhor por que Madison parecia tao vazia, quase inospita com uma temperatura tao feroz. Caminhamos por alguns minutos, ate o vento comecar a trazer gritos e urros comuns aos cenarios de batalha. Dificil entender o que diziam, mas entre uma palavra e outra ouvia-se “Corre!”, e mais gritos de temor e euforia.

Para a minha frustracao os meus oculos tinham flocos de neve derretendo nos vidros. Retirei-os do rosto diversas vezes numa tentativa de limpa-los, porem sem luvas consegui apenas congelar as minhas maos, que logo comecaram a ficar insensiveis. O meu humor, como voce pode imaginar, ja nao era dos melhores. Lutei por melhorar a minha visao a medida que nos aproximavamos da fonta dos gritos, e quando finalmente consegui enxergar melhor avistei centenas de pessoas separadas apenas por uma rua, o lado direito atacando o outro com muitas bolas de neve que cruzavam o ceu como estrelas que brilhavam com as luzes artificiais dos predios.

O Michael e eu seguimos por tras do lado esquerda da batalha. Ele trazia uma bola de neve apertada entre os dedos, “so por precaucao para nos defender”. Vi uma bola espatifar-se bem proxima ao meu pe direito. Pulei para o lado instintivamente, e tentei avistar a fonte do ataque – eu nao estava ali para guerrear, algo me impede de atirar ate mesmo bolas de neve; mas eu estava vulneravel.

Tentando encontrar quem havia mirado a massa inteira do lado esquedo, pela qual o Michael e eu passavamos, comecou a correr na nossa direcao. “Eu acho que o outro lado comecou a atacar!”, disse eu, puxando o braco do Michael. A sirene do carro da policia provou-me errada – a presenca da policia havia dispersado a todos numa euforia sem sentido. Ouvi alguem passar correndo proximo a mim perguntando se era contra a lei atirar bolas de neve.

O Michael olhou para mim, os olhos ligeiramente apertados com o gorro comprido demais. – Becca, corre!! – disse ele. Senti o fluxo de adrenalina percorrer as minhas pernas. Eu nao queria ter que sair correndo como se tivesse alguma culpa, mas nao era uma boa ideia estar no meio de uma “horda” descontrolada. “Ok”, respondi de volta, e ambos comecamos a correr em direcao ao supermercado ladeados por muitos alunos.

Voce ja tentou correr vestindo quatro camadas de roupa e um cachecol comprido? Fiz o possivel para manter o equilibrio, e segui em frente nao tao rapida quanto gostaria. O Michael estava ao meu lado esquerdo, poucos centimetros adiante.

Senti-me estranhamente calma. Por alguma razao que ninguem nem eu mesma compreendo sinto-me atraida por guerras, embora todos os meus tratos sejam os de quem foi criada como uma flor fragil. Talvez eu seja assim delicada e vulneravel, mas para desespero de todos sei que pertenco a um universo que em milhares de aspectos nao sao compativeis com a minha personalidade tranquila.

Eu nao estava entre todos aqueles alunos para lutar, e a ideia de atirar bolas de neve nao me entusiasmara como teria entusiasmado alguem nascido para a arte da guerra. Eu estava ali simplesmente para ver e sentir, e narrar a voces os fatos sob a visao de alguem que vivenciou tudo, porem nao se envolveu. Eu estava ali para socorrer Gregos e Troianos, e nao tomaria lados. As minhas maos estavam limpas.

-- Eu estou aqui para proteger voce – dissera o Michael, o bom e velho instinto protetor.

-- Nao preciso de protecao – disse eu, segura de que nada me ocorreria, embora o mundo ao meu redor sugerisse o contrario.

A correria parou, finalmente. O carro da policia continuou circulando por mais alguns minutos para garantir que a guerra de bolas de neve nao se tornaria uma brincadeira perigosa. Retornando para casa ainda ouvimos mais gritos, ate que o som da batalha que continuava foi abafado pela neve que caia, especie de efeito estufa que envolve a cidade inteira deixando-a estranhamente silenciosa.

No apartamento do Michael minhas vestes gotejavam a neve derretida. Meu rosto estava vermelho e ardido. Meu humor caia perigosamente. Mas, de certo modo, eu estava sarisfeita por ter me arriscado do lado de fora. Embora tivesse sido um grande e relativamente inocente jogo, a guerra tem muitas faces. Uma delas eu vi essa semana, sobrevivi, e narrei a voces com a voz de alguem que viu cometas brancos cortarem o ceu e acertarem gorros variados de cidadaos americanos.

Em alguns anos o chao que verei nao sera branco, e sim vermelho-vivo. Os projeteis cruzando o firmamento nao serao gelados, porem quentes, e mais velozes. Estarei pronta, de qualquer forma, e contarei a voces tudo o que ver, sentir, e ouvir.

…ate la.. feliz inverno, Wisconsin! E boas festas a voces, queridos brasileiros. Saudades imensas, vontade de voar ao sul.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Capitulo 29 - Ferias de Inverno, Ai Vou Eu!


Fim do Fall Term..! (e ainda nao comecou a nevar)

Finalmente tive minha ultima prova ha algumas horas, e estou livre para o famoso winter break (ferias de inverno). Por aqui estamos todos fazendo as malas, empacotando livros e outros pertences, e organizando as financas, porque dessa vez para ficar no campus eh preciso pagar uma taxa dolorida no bolso.

Eu particularmente nao estarei por aqui: amanha sigo para uma cidadezinha rodeada por milharais ha cerca de 40 minutos de Appleton, onde ficarei na fazenda da minha 'friendship family', os Kozaks, especie de familia de apoio em Wisconsin que a Lawrence arranjou para mim.

Enquanto retiro as malas da parte de baixo da minha cama, e entrego 'quarters' a uma vizinha que desesperadamente precisa de mais creditos para poder usar a maquina de lavar e a secadora, penso que essa semana deveria estar indo para a minha querida Recife. Recife, que a essa epoca deve estar esquentando com a proximidade do verao! Caminhar pelo portao de desembarque e ver a minha mae entre a multidao que aguarda, na ponta dos pes e esticando o pescoco, numa leve inclinacao para a esquerda... Enfim, eh a vida de quem nao tem tantos meios assim, mas hei de visitar minha terra natal ano que vem, se Deus quiser!

Esse inverno, no entanto, nao sera ruim como voce deve estar pensando. Visitarei o meu namorado, que eu amo, amo, amo... E irei a Chicago na primeira semana de dezembro com os Kozaks, para a reuniao de familia deles! Sem falar que agora que tenho um laptop posso finalmente trabalhar com mais privacidade nos meus projetos; livros; e applications para bolsas de estudo.

Quem sabe, ate, um milagre ocorra e eu apareca no Brasil a tempo do Natal! Seria o maior milagre de todos os tempos, tirando a vida em si. Se voce acredita em milagres, fe, e na forca do pensamento, reze por mim! Quem sabe juntos possamos encontrar meios razoaveis de me permitir ver os Carvalho, que esse ano ganharam dois novos integrantes: Anita e Giuseppe... Sim, tambem consigo prever grandes historias entre esses primos, filhos de Kamila e Thiago respectivamente, que vieram ao mundo portando nomes que por si so ja carregam importantes ligacoes.

Quem viver, vera..!

-- Feliz Natal e um Prospero Ano Novo a todos os povos!

domingo, 1 de novembro de 2009

Good Things

I am very inclined to believe that things are getting better in my life. I am not only inclined -- I am sure and strongly certain that more than anything else joy will be constant for at least a long period. Yes, the orbs are conspiring to get me delightful surprises!

domingo, 18 de outubro de 2009

Capitulo 28 - Root Beer FLOATing on my Notes


At 9:30 pm I already was tired of studying Geology. Coincidentally I went to the front desk at the same time my friend Cuong’s program started: Free Root Beer Floats! I don’t even like root beer very much, but I decided to stay around – I was tired and wanted some distraction to relax my mind. I had my notes with me, neatly written with my fountain pen, and on nice ivory paper. I spread the sheets of paper on the desk, and while sipping root beer I read what I had written about the types of rocks and magma. First I disliked the taste of the beverage – but ice cream, I must confess, improved the flavor of it; and improved it in a way that made me refill my cup.

Alex was getting excited with the songs he was choosing on YouTube, and couldn’t stop arguing with Cuong, who wanted to listen to [and sing along, and dance..] different songs. In order to end the mess they were making behind the front desk it was decided that the freshmen hanging around could pick whatever songs they wanted, and which RLA they wanted to see dancing that song. The idea did not bother me much because I was simply hanging out for a while before going back to Geology.

After deliberating with his friends one of our 1st floor residents, Kyle, came to the front desk with his decision: “We want this song… And we want the FOUR of you to dance it..!”. That was when I raised my head and looked around… to my surprise they had included me.

- Hold on… what do you mean by “the FOUR of you”? – and my hand accidentally bumped into my cup, and made the content of it spill all over my notes.

I ran desperately to stop the black river that my ink formed on the desk and had started dripping on the floor. Nobody paid attention to me, though – only Tasmia, 3 minutes later, realized what was going on when leaving the front desk for some reason. She started to laugh at what she described as the “not happy, though not very sad face” I had, and helped me clean the mess I made.

Those were just random notes I took while studying this afternoon, so losing them was not a major disaster. Though still was pretty depressing to see them all blurred by root beer and ice cream. “See, that’s why I’ve never liked root beer…”, I said to Tasmia, who couldn’t stop laughing. It was pretty comic, indeed. I had to laugh at my clumsiness. I was so annoyed at my loss [nice paper; black ink; ice cream; and even root beer], that I decided to go back to the computer lab to study.

I wonder if I will ever recover from such traumatizing experience…

sábado, 3 de outubro de 2009

Junior Year


Saudacoes a todos..!


Junior year... Pois eh, chegou o meu penultimo ano na Lawrence. As vezes fico impressionada como o tempo passa correndo -- mas tem que ser assim mesmo, sim? Ficar parado no espaco nunca foi melhor opcao.


Para que nao sabe..: Tive o melhor verao de todos os tempos. Aprendi bastante sobre mim mesma, sobre um amigo querido, e sobre a vida em si. Viajando pelos EUA aprendi um pouco mais sobre cultura e Historia local, e pela primeira vez comi no Taco Bells [muito nao entenderao a razao do meu orgulho; mas, enfim... foi legal!].


Ao retornar a Lawrence tornei-me uma RLA (residence life advisor), que - em termos Harry Potter - eh uma especie de 'monitor'. Junto com mais 9 alunos cuidamos para que a vida no Trever Hall seja a melhor possivel, e que os alunos antigos e os calouros possam viver em harmonia e aprender a respeitar o local em que vivem e os colegas de dormitorio. Posso dizer que tenho aprendido bastante com o novo cargo -- principalmente aprendido sobre mim mesma: Nunca pensei que fosse me sentir tao segura ao lidar, por exemplo, com estudantes bebados:


Cena 1:


Estou eu na recepcao do Trever Hall por volta das 10:00 pm, e percebo que um aluno nao consegue abrir a porta de entrada. Eh um dos nossos residentes, e esta caindo pelas tabelas, amparado por um outro aluno. O que fazer? Abro a porta, e ajudo o aluno a entrar. Ele eh estrangeiro (por razoes diversas nao identificarei a nacionalidade do querido pinguco, pois nao quero gerar estereotipos entre os meus leitores), e num Ingles quebrado [e influencia de 'pinguces'] eles me agradece umas 10 vezes seguida.


Ele eh alto, e largo. Parece um guarda-roupas. E eu temo pelo ombro do colega sobrio -- na manha seguinte ele certamente sentira o peso da amizade. Seguimos com o aluno bebado ate o quarto dele. Ele agradece mais umas 10 vezes. Deitado na cama ele parece terrivel. Meus olhos imploram para que o amigo fique tomando conta dele, mas o amigo precisa ir. Nao eh bom deixar bebados sozinhos, eles podem [ATENCAO: SE VOCE ESTA COMENDO AGORA, POR FAVOR, NAO CONTINUE ESSE TEXTO. EM CASO DE ESTOMAGO FRACO, TAMBEM NAO CONTINUE. EU AVISEI, PELO PROPRIO BEM DO SEU TECLADO, PULE PARA O PROXIMO PARAGRAFO] vomitar e se afogar no proprio vomito. Eh muito serio, em verdade. Por isso, caso voce tenha que lidar com algum estudante bebado que queira ficar deitado (porque chega um momento em que o organismo nao aguenta mais e pede para ser desligado) tenha em mente que uma boa ideia eh manter o corpo dele de lado. Junto a cama colocamos a lata de lixo, que serviu muito bem ao proposito.


Chamei o meu chefe (RHD: Residence Hall Director, especie de 'sindico') so para ter certeza que nao era o caso de maiores cuidados. O rapaz discursou numa lingua estrangeira, e depois caiu no sono. O mantivemos deitado de lado, so por precaucao. Quando o vejo sobrio hoje em dia nao consigo esquecer do episodio anterior -- eh incrivel como a primeira impressao eh a que fica.


Fora esses incidentes, tudo segue bem. Tenho publicado mais materias para o jornal da faculdade, e tambem trabalhado lavando pratos no refeitorio. Ha muitas historias sobre o refeitorio que preciso contar -- mas essas ficam para depois...


Boa noite, e parabens Brasil! Por aqui todos muito orgulhosos pela conquista: Olimpiadas de 2016 no Rio de Janeiro!!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cade a Rebecca..?!



E ai, tudo bem? Nao, eu nao morri. Estou de ferias em Minnesota!!! Como estava com saudades de todo mundo decidi gravar esse video rapido, com a pessima iluminacao do quarto... Mas, enfim, fica a prova de que eu nao fui abduzida.

Musica de fundo, Ray Charles. Nao, eu nao tenho nenhum direito de uso. Ray Charles and The Count Basie Orchestra.

Sim, era a camisa do programa Jovens Embaixadores.

:)

P.S. Eu tambem quero cruzar a India de trem! Passei alguns segundos (da para perceber no video), me imaginando no lugar do Sanjay....

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Capitulo 27 - Dia Brasileiro



Hoje quando eu estava voltando do meu trabalho no refeitorio ouvi o grupo Sambistas tocando no Frat Quad, que eh a area onde estao localizadas todas as fraternidades da Lawrence University. Saquei a camera, e filmei o que voce vera logo mais.

Nao eh nenhum trabalho profissional, e a imagem esta ate tremida. Mas voce podera ver um grupo de patos (?) cruzando o ceu, e algumas pessoas dancando de maneira engracada.

Mila Pimentel, lembrei de voce!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Capitulo 26 - Spring Term


Eh Primavera na Lawrence University. Os gramados estao tao verdes quanto os encontrados no Brasil, e o campus inteiro cheira a flores. Nao estou falando da linguagem poetica que apela aos sentidos do leitor; porem, literalmente, as petalas dos jasmins, que desabrocharam semana passada, em contato com o sol emitem um forte aroma que cercou predios academicos e residenciais.


Pela manha eh comum ver alunos metidos em poucas vestes, estirados na grama esmeralda, absorvendo os raios solares que tanto fizeram falta nesse inverno, que foi tao prolongado. Munidos de livros e oculos escuros, ha uma combinacao engracada entre veraneio e trabalho intelectual que para mim nunca se encaixou muito bem - mas as aulas se estendem ate o comeco de junho, e mesmo a chegada da estacao das flores nao poderia barrar a producao de papers, essays, presentations, e afins.


Sigo para a minha aula de Arabe, no 2 andar do Main Hall, abro uma janela e me sento no parapeito observando a vida la fora, antes que o professor Verita chegue e nos cumprimente com ares egipcios. O vento sopra levemente, baguncando os meus cabelos, e eu fecho os olhos: "Vento, vento.. leva as tristezas, e traz apenas alegrias!", murmuro. E ele, brincalhao, eh claro que atende ao meu pedido.


"Ahla wa sahla!" -- exclama o professor Verita.


Eu dou uma ultima espiada nas arvores estendendo galhadas cobertas por folhas recem-nascidas; no ceu azul, quase sem nuvens; e a contragosto volto ao mundo dos livros. "William Wordsworth, afinal de contas, estava certo", penso, lembrando das aulas de Literatura Britanica.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Capitulo 25 - O Ataque do Peru Assassino


Essa historia eu nao vivi, mas quem me contou foi a Britta numa dessas noites em que risos eram necessarios para nos manter firmes e acordadas para terminar de estudar:


-- Ah, voce nao sabe o que aconteceu ontem... - disse ela, levantando-se da escrivaninha, que fica logo ao lado da minha. Ela havia se levantado, promessa de que a historia exigia alguma encenacao. Virei as pernas para o braco esquerdo da cadeira, e esqueci Literatura Britanica por alguns minutos.


Continuou:


-- Ontem eu fiquei ate por volta das 5:00AM estudando no salao comunal com o Sanjay. A uma certa altura olhei pela janela e vi um passaro gigante!


-- O que? Gigante como?


A Britta ergueu a mao para mostrar a altura dele. - Era alto assim - a mao um pouco acima do joelho - ...e gordo, tambem. Pois bem, eu vi o tal passaro gigante andando entre os arbustos ao redor do predio de Ciencias, bicando as janelas. O Sanjay e eu passamos a observa-lo, e logo ficou claro que era um peru.


-- Um peru?! - exclamei. Minha memoria acerca de perus se resumem as ceias de Natal que tive ao longo da vida com a minha familia. Alguns pensamentos engracados de pessoas imitando o som que eles fazem tambem espocaram na minha mente.


-- Sim! Um peru... - ela parou e respirou fundo, os olhos fechados. Para entao continuar: - Voce ja viu a maneira como eles andam? - e riu, andando com os joelhos ligeiramente arqueados, e balancando a cabeca para frente a cada passada.


Ri. Quem diria que a minha colega de quarto era tao boa em imitar animais... Mas a melhor parte estava por vi:


-- Mas voce nao sabe o que o peru fez! Havia uma mulher correndo do lado de fora, e eu juro que o peru a viu antes que ela pudesse nota-lo! Ele entao saiu correndo e se escondeu atras de um arbusto! - a Britta usou o freezer como arbusto na demonstracao - ...e entao... quando ela passou... O PERU SAIU VOANDO NA DIRECAO DELA!!!


Cai na gargalhada ao imaginar o peru atacando a corredora, e ainda mais com a Britta balancando os bracos para imitar o voo do peru. - Ah, eu nao acredito que eu perdi essa cena! Voces nao tinham uma camera ou coisa parecida..? - suspirei. Para minimizar minha frustracao a Britta iniciou uma pesquisa no YouTube, e a verdade eh que descobrimos o quanto esses passaros natalinos podem ser maliciosos!


A teoria eh que ele fez de proposito... - Eu vi que ele se escondeu para atacar a mulher... - disse a Britta balancando a cabeca. Vai entender o que deu na cabeca do passaro... estava de mal humor, provavelmente.


...por precaucao tenho evitado areas com arbustos. Voce, caro leitor, faca o mesmo quando vier a Lawrence University.


domingo, 10 de maio de 2009

A Quick Note

Lamento ter passado algum tempo sem publicar historias. Nao, elas nao cessaram de ocorrer na minha vida -- porem alguns capitulos as vezes sao publicaveis apenas nas paginas dos meus diarios pessoais.

O que posso dizer eh que tenho aprendido bastante com essa vida de aluna internacional. Nao estou falando apenas das aulas que tenho na Lawrence University. Falo principalmente das licoes de vida, dos ensinamentos que se aprende ao viver a vida como alguem adentrando o mundo adulto; como alguem vivendo longe de casa pela primeira vez; como a unica pessoa responsavel por mim mesma.

As vezes eh dificil, sim. Ha, claro, dias em que eu olho ao redor e digo "Quero ir ver a minha mae agora, e ponto final!". Nao, nao se preocupem -- esses rompantes sao perfeitamente normais (...considerando que minutos depois recobro as forca e sigo em frente com a minha vida normalmente).

Nesses ultimos dias, no entanto, muita coisa mudou (..e nessa reflexao o ligeiro ar melancolico desse post eh explicado). O lado bom eh que, como apontado anteriormente, aprendi bastante. O lado ruim eh... o lado ruim eh... Vamos apenas pensar que nao ha lado ruim, sim?

I still like you very much. Things will be fine, soon. I promise.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Capitulo 24 - Uma Novidade Que Quase Custou As Minhas Notas

Lamento por todos esses dias em que eu passei sem postar uma historia que fosse - mas estive tao doente que mal podia me levantar da cama. Foi exatamente 1 semana apenas ouvindo a chuva na minha janela; ocasionais risos distantes dos alunos caminhando la fora; muita febre e tontura; spray para garganta sabor cereja; e dois pares de olhos azuis identicos sobre mim: As gemeas Britta e Hannah Luteyn, minhas enfermeiras.
Parece que enquanto eu dormia a Primavera veio nos visitar, e trouxe um pouco de calor. Mas certa manha, ao dar uma boa olhada na vida atraves das cortinas, para a minha surpresa encontrei a Lawrence afundada em neve. Estava tudo branco outra vez. E hoje faz tanto frio que a pele do rosto arde e fica de um vermelho intenso pouco estetico.
Mas fui ao medico, e ja estou consideravelmente melhor. Tambem conversei com os meus professores, entao esta tudo (aparentemente) sobre controle para as provas finais, que serao semana que vem. Amanha, por sinal, eh meu teste oral em Arabe - portanto me desejem boa sorte!
A novidade que quase custou minhas notas poderia ter sido a gripe violenta, mas na verdade foi um assunto totalmente diferente. Eu nao sei exatamente se devo informar, porque o fato eh que eh melhor esperar um pouco pelos resultados - porem se der certo vai trazer grandes alegrias para mim, para a minha familia, e para as pessoas que torcem pelas minhas empreitadas.
Parece um pouco injusto colocar dessa maneira, mas vamos esperar, sim? Eu prometo que sera uma boa noticia - ou, pelo menos, eu espero que ela venha. Mas me dediquei bastante; tanto que acabei negligenciando um pouco os meus estudos, mas ja esta tudo se ajustando. Agora eh so torcer pelo melhor!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Capitulo 23 - Uma Historia Envolvendo a Policia de Appleton

Como dizem... "Para tudo ha uma primeira vez!". Nao, nao eh o que voce esta pensando -- lamento desaponta-lo, porem nao fui presa, ou arrested por qualquer razao. A historia que contarei hoje, no entanto, apenas tres pessoas conhecem -- ou melhor, quatro: Tamanna, Mya, uma policial de Appleton, e eu.
Ao final de setembro os alunos internacionais ainda estavam bastante perdidos. Literalmente... A gente andava com mapas colados ao nariz. Era facil nos identificar: Nao porque tivessemos tracos diferentes, ou qualquer tipo de sotaque... Os americanos, mesmo eles, tantas vezes podem ser apontados como vindos de outro pais, visto os genes dos ancestrais imigrantes que muitos trazem. O que podia nos identificar, no entanto, eram os mapas fazendo volume nos nossos bolsos e uma eterna expressao de quem acaba de descer na parada de onibus errada (...por falar nisso, ja contei a respeito do dia em que dormi voltando do trabalho e acabei perdendo o ponto de onibus? Essa, no entanto, nao eh uma historia da Lawrence University).
Tamanna, Mya e eu precisavamos ir ao shopping Fox River procurar por alguma companhia de celulares, e tambem comprar utensilios de que precisavamos. No meu caso eu nao estava em condicoes de assinar qualquer plano telefonico que fosse, mas definitivamente precisava comprar calcas pretas que nao fossem jeans -- iria comecar a trabalhar para o departamento de catering da Lawrence, e definitivamente nao tinha calcas e sapatos adequados ao cargo. Nao lembro exatanente do que mais as minhas amigas precisavam, mas recordo vagamente a Tamanna - que eh tao magrinha - reclamando que precisava ir checar o departamento infantil.
Chegar ao shopping, no entanto, era um problema maior do que meu guarda-roupas inadequado. Qual onibus? Onde fica a parada? Quanto custa a passagem? E onde fica o Fox River, exatamente..?
Ora, ora - somos tres garotas crescidas ja morando sozinhas - o que poderia dar errado?
O que poderia dar errado? Essa eh uma pergunta bem interessante. Mal sabiamos nos tres, mas encontrar o Fox River Mall foi uma das maiores sagas da nossa vida. A aventura, no entanto, decidimos guardar apenas entre nos, visto alguns detalhes minimos..:
  1. Descobrir onde ficava a parada de onibus, e em qual onibus embarcar. Para a nossa surpresa nos informaram que precisariamos ir a rodoviaria de Appleton (que fica logo atras da College Avenue, uma caminhada agradavel). Nao parece o tipo de informacao primaria para alguem querendo se locomover? Onde ficava o destino, e qual meio nos levaria ao lugar. Nem sabiamos o basico!
  2. Ja no onibus conversavamos alegremente, embora houvesse uma certa tensao camuflada: Por que cada bloco em Wisconsin parece identico? Cada rua, estabelecimento, esquina... tudo igual! Ouvimos o motorista anunciar que estavamos na market area, o que quer dizer "area de mercado", e o estacionamento do tal lugar parecia tanto com o do shopping (tinhamos o visitado apenas 1 vez, porem num onibus fretado pela Lawrence, e com monitores). Nao sabiamos nos que o tal market area na verdade era Market Area!!! Descemos do onibus, olhamos ao redor... "NAO EH AQUI!!!".
  3. O que fazer? Observamos tristemente o onibus seguir adiante. Perguntamos a uma senhora onde ficava o shopping, e ela disse que na verdade nao estavamos tao longe assim, mas que em termos de caminhada seria um pouco comprida, sim. Fazer o que? Tamanna, Mya e eu decidimos que iriamos, sim, andando...
  4. ...e como andamos! Andamos tanto, em fila indiana, pelo acostamento da rodovia. Nao sabiamos se estavamos seguindo o caminho certo, mas sabiamos que precisavamos chegar ao destino. Riamos da nossa propria sorte, tres garotas perdidas no coracao dos EUA, prometendo jamais passar adiante a historia. "Gente, nao podemos andar por aqui...", eu ia repetindo, e Tamanna rebatia dizendo que nao havia por onde caminhar (nao havia calcada ou coisa parecida).
  5. Um carro policial de Appleton piscou a sirene logo adiante. Como eu previ, parou ao nosso lado. Uma policial sorridente colocou a cabeca para o lado de fora de janela: "Algum problema, garotas?". Sim, todos os problemas do mundo! Descemos do onibus no lugar errado, e agora nao sabemos o que fazer. Estamos andando a horas, precisamos chegar ao shopping, e nao o encontramos! "Oh, voces nao podem andar por aqui. Estao perto do Fox River, na verdade. Eu levo voces ate la". E onde foi parar toda a historia de que nao se deve aceitar carona de estranhos? Ah, e quem liga?!

Chegar ao shopping foi como... como... como encontrar, por exemplo, o cadaver do menino no filme Stand By Me (Baseado no livro The Body, de Stephen King, que eu li quando estava no Colegio Militar).

Esse dia de aventuras veio como uma amostra do que a vida realmente eh: Andamos rumo a um objetivo, e nem sempre sabemos bem como chegaremos la, porem sabemos que precisamos continuar andando. Contanto que nos mantivessemos juntas teriamos forca o suficiente, e fe o suficiente, para seguir em frente. A minha dica, no entanto, eh para que voce mantenha um olho bem aberto para saber em qual parada deve descer... e, hum... nem sempre confie em rostos amigaveis oferecendo caronas - mesmo que no nosso caso tenha dado certo, e tenha sido uma policial, realmente nao ha como saber em quem confiar. E como saber de quem se pode receber ajuda? Nesse caso eu diria que vale a pena confiar nos proprios instintos, e os meus sempre funcionaram bem.

- Eu nunca estive num carro de policia... - disse a Mya, com um ar conservardor assustado.

- E nem fizemos nada! - completei. A Mya olhou para mim, os olhos puxados, e nos duas so pudemos rir uma da outra.

Essa foi a nossa primeira experiencia - e unica, espero - com a policia de Appleton. E entao... vai guardar o nosso segredo?

domingo, 1 de março de 2009

Capitulo 22 - O Meu Maior Receio

Ganhei um novo seguidor! Oops, o Historias da Lawrence University ganhou um novo seguidor -- o que quer dizer que mais e mais pessoas vao lendo os causos que aqui relato acerca da minha vida como aluna internacional. Para comemorar o sucesso (Oi..?!) do blog decidi que deveria dividir com voces tres historias. Em tres posts diferentes, quero dizer.

  1. O meu maior receio quando entrei para o mundo universitario americano.
  2. Uma historia envolvendo a policia de Appleton.
  3. Uma novidade que surgiu entre as paredes da Lawrence e quase custou minhas notas.

Vamos a primeira historia, entao. Alguem faz ideia de qual era o meu maior receio acerca do mundo universitario americano? Hm... Vejamos...

...eu deixei Recife numa sexta-feira logo apos o horario do almoco. A minha familia toda (ou quase toda) estava no aeroporto, e uns amigos dos tempos de Colegio Militar e mIRC (...sim, eu sou do tempo do mIRC!). Voei para o Rio de Janeiro, e de la embarquei a noite para Atlanta. Cheguei bem na terra do Tio Sam por volta das 8:00 da manha do sabado, e aguardei no aeroporto pelo meu voo a Appleton, que deveria sair apenas as 9:15 da noite.

"Atlanta, 13 de setembro de 2008 (sabado)
--> 2:35PM

Ja incrivelmente aborrecida por estar sentada aqui so vendo os avioes chegando. Quero ir para Appleton logo, e poder deitar numa cama, que eh do que estou precisando. Estou tao cansada que nao tenho nem palavras para explicar -- ha alguns minutos quase cochilei aqui mesmo onde estava; acordei apenas com o peso do corpo deslocando para frente. Abri os olhos atonita, mas por sorte nao havia (eu acho) ninguem olhando".

Um trecho do meu diario para explicar o que foi passar um dia inteiro no aeroporto. A experiencia nao foi das piores, no entanto -- ora essa, eu havia acabado de chegar nos Estados Unidos!

O voo para Appleton - WI foi o mais turbulento da minha vida. Havia, literalmente, uma tempestade sobre a cidade, e o aviao chacoalhava da pior maneira possivel entre camadas e camadas de nuvens. Ao meu lado Roy (ainda lembro do nome dele, que foi meu vizinho de assento) tremia de medo, enquanto eu simplesmente ria espiando a janela -- afinal de contas estava chegando, FINALMENTE, em Wisconsin.

Tim Schmidt, da International House, estava me esperando no aeroporto. Seguimos para a Lawrence numa van da universidade, e com ele me explicando sobre a cidade e as atividades da manha seguinte. No escritorio do Tim peguei alguns mantimentos como garrafas d'agua e biscoito, ja que nao havia jantado, e telefonei para casa a avisar que estava bem. Acabei, oops, acordando a minha mae, que em vez de dizer "Tchau, durma bem" ao final da conversa simplesmente disse "Va tomar um banho".

...?!

Sim, fazia sentido, eu passara 1 dia inteiro sem ver a cara do chuveiro... Mas... foi ai que eu lembrei do meu maior temor: Os quartos dos dormitorios nao sao suites! O que quer dizer... sim... voce tem que ir tomar banho num vestiario ou coisa parecida. Nao sou tao pudica assim, mas o pensamento de ter que ir enrolada numa toalha para o banheiro (como normalmente se faz) me aterrorizava mais do que qualquer viagem turbulenta.

Eh verdade que no andar do predio onde eu moro, o Ormsby Hall, so ha garotas -- mas mesmo assim... Sem falar que a circulacao de garotos nao eh proibida, visto que o segundo andar do dormitorio eh masculino.

Ja estava tarde, eu nao sabia o que fazer, e precisava tomar um banho. Coragem, Rebecca... Enfiei uma muda de roupas, toalhas, e produtos de banho numa bolsa larga que ganhei na minha viagem a Minas Gerais, e segui pelo corredor a procura dos chuveiros. Encontrei rapidamente, e entrei rapidamente num deles, fechando a cortina o mais apertado que pude.

Eu estava tao aterrorizada com a ideia de que alguem pudesse entrar no vestiario, que simplesmente tive o banho mais rapido da minha vida. Acho que durou cerca de 5 minutos -- e quem me conhece sabe que esse recorde dificilmente baterei outra vez.

Hoje em dia eh natural tomar banho ouvindo o barulho dos outros chuveiros (e as vezes ate ouvindo algumas alunas cantando, embora nem todas sejam tao boas cantoras assim), e eu sempre me lembro da primeira noite em que os conheci...

...continuo, no entanto, me recusando a ir e vir de toalha. Eu me troco nos chuveiros. E, ah... a bolsa de Minas Gerais eh incrivelmente util!




quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Capitulo 21 - Qual eh o significado da nossa amizade?!


A Britta eh a minha colega de quarto na Lawrence University. Foi amizade a primeira vista - uma dessas parcerias que so o destino saberia explicar. Como eh que de repente duas pessoas que nunca haviam se visto na vida acabam tendo que dividir o mesmo apartamento na faculdade e, ora vejam so, se dao tao bem desde o primeiro dia.

Como boas colegas de quarto dividimos quase tudo - comida, tristezas, e alegrias. Dividimos, inclusive, gripes. Essa semana a Britta desceu do primeiro andar (como eu chamo a cama de cima do beliche) e me encontrou enfiada em tres camadas de cobertas.

"Eu nao me sinto muito bem...", anunciei, notando minha propria garganta seca. Ela perguntou se eu queria que ela trouxesse o meu almoco, mas optei por levantar e espantar a doenca para longe. O fato eh que acabou respingando nela.

O quarto 314 do Ormsby Hall acabou se tornando um antro de virus. Sanjay, que eh um desses amigos que ja entram sem bater, passou a lavar as maos cada vez que tocava em alguma coisa. "So ando com voce na semana que vem!", exclamou ele, um dedo apontado para mim, como se eu estivesse carregando a propria peste bubonica.

A verdade eh que ele anda tao aterrorizado em adoecer que comecou ate a evitar a Britta, sua melhor amiga e colega do conservatorio de musica. Ontem ela abriu a porta do quarto de sopetao, um envelope na mao, e a expressao mais ofendida que eu ja vi.

"Olha so o que eu encontrei!", e estendeu-me um envelope. "O Sanjay com medo de subir aqui fica colocando mensagens na nossa caixa de correio! Hoje quando ele me viu no refeitorio deu um pulo para tras dizendo que nao iria falar comigo. Olhei bem para ele e perguntei afinal de contas, qual eh o significado da nossa amizade?!".

Sera que entre melhores amigos tambem vale o tal de "...na saude e na doenca"? Pelo visto no Ormsby Hall segue a ideologia amigos, amigos - gripes a parte.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Capitulo 20 - Carnaval nos Estados Unidos


Por conta de pessoas como a Marina eu continuo escrevendo. Ela eh uma dessas parentes da familia Jovens Embaixadores que, por uma gentileza real, para a ler tudo o que escrevo por aqui. E de onde vem tanta paciencia para me ouvir relatar todas as historias sobre as araras do zoologico de Madison; os trolls no corredor do subsolo do Ormsby Hall; o primeiro dia de neve...? Eu nao sei - mas agradeco o carinho e o reconhecimento. Portanto, Marina, continuarei escrevendo. Obrigada!




E qual eh a novidade de hoje?

Eh Carnaval na Lawrence! Ou melhor... eh Mardi Gras. Na semana passada chegaram colares de contas coloridas pelos correios. Quando entrei no quarto certo dia apos uma aula encontrei dois colares: Um verde e um rosa - ou seja, um para mim e outro para a minha colega de quarto, Britta. Qual eh a minha cor preferida..?! Sim, eh claro que fiquei com o verde, e em vez de usa-lo como colar encontrei outro uso para ele: Enrolado no meu pulso direito tornou-se uma boa pulseira, acredite ou nao.


A noite, por volta das 9:30, fui para o predio Memorial Union curiosa para entender como o Carnaval era comemorado nos Estados Unidos. Segui com tres camadas de vestes, e o cachecol bem proximo ao pescoco, pois embora a Primavera esteja se aproximando parece que o Inverno eh o unico que ainda nao sabe disso.


Ao entrar no Memorial Union os meus timpanos foram surpreendidos pelo som incomum de uma banda tocando num salao que chamamos de Riverview Lounge (e ele realmente tem vista para o rio Fox), de onde normalmente se escuta o ritmo [para mim inconfundivel] de um estilo musical chamado swing. Ao longo do corredor duas mesa repletas de alunos veteranos vestindo camisas amarelas na qual se lia "Mardi Gras". Numa delas estavam vendendo (?) colares de todas os tipos - porque aparentemente eles sao altamente necessarios caso voce decida celebrar o Mardi Gras (...e eu que transformei o meu em pulseira...). Noutra mesa li "Margaritas", e achei extremamente confuso o fato de estarem vendendo bebidas alcoolicas - mas no fundo acho que era apenas uma versao nao-alcoolica, ja que nao havia ninguem checando identidades.


Atravessei o portal do Riverview Lounge, repleto de fitas brilhantes coloridas, e que para o meu espanto transformara-se num verdadeiro cassino. Jogos de cartas, e outras formas de aposta de toda sorte - embora nao houvesse ninguem apostando nada, apenas testando a propria sorte. Logo adiante uma banda inteira de senhores vestidos de vermelho em branco. Olhei ao redor pensando "Entao eh assim que eles celebram o Carnaval por aqui...?". Por um segundo troquei as mesas, onde aqui e ali identificava-se um garoto vestido de mulher (...?!), por um bom ritmo de percussao e gente fazendo passos de frevo e samba.


Um pouco desapontada (e ligeiramente gripada) decidi voltar para o dormitorio. Uma plaquinha indicava que a comemoracao seguia no subsolo: Pinturas Faciais / Casamentos / Cartomante. Desci as escadas e a primeira coisa que vi foi um colega da classe de Arabe II se casando com a namorada diante de um altar conduzido por alunos - as aliancas que ambos receberam foram aneis com um confeito vermelho na ponta em formato de coracao. Ate ganharam um certificado oficializando a data.


Seguindo a direita havia uma banda de jazz tocando para umas poucas pessoas sentadas em mesas redondas e colorindo mascaras. Reconheci a maioria como garotas que moram no mesmo andar que eu no Ormsby Hall. Ninguem estava muito interessado na banda - porem, verdade seja dita, ate que eles eram muito bons!


Segui a esquerda e encontrei uma sala de estar com uma mesa de sinuca - porem, mais interessante, encontrei uma mesa redonda na qual um rapaz metido em vestes de mago fazia previsoes com cartas. Estava usando uma marcara negra, e de qualquer modo nao reconheci-lhe a voz - mas devia ser um aluno da Lawrence com um certo conhecimento sobre a arte de ler o futuro em cartas. Sentei-me num sofa diante dele, observando como conduzia a leitura - ele olhou para mim e eu sustentei o olhar. "Vamos ver se voce sabe o que esta fazendo ou nao" - nao pude deixar de pensar, e receio que ele tenha lido os meus pensamentos.


Com o tempo deixei de incomodar o cartomante com o meu olhar fixo, e permiti-me pensar em outras coisas. Lembrei do Michael me dizendo que em Madison ele escutara que na State Street um dos bares estava planejando uma tematica brasileira para o Mardi Gras - lamentei com os meus botoes que eu nao pudesse ir ate ele, ou que ele nao estivesse em Appleton para ver que tinhamos ate um cartomante!


Deixei a sala do cartomante me sentindo ligeiramente febril, e retornei ao dormitorio. Os sintomas da gripe vao e voltam, e eu sigo com a vida normalmente porque nao posso simplesmente enterrar-me na cama ate que esteja totalmente melhor. Pergunto-me, no entanto, o que o cartomante teria me dito caso eu tivesse me submetido a sua consulta...


...nunca saberei.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Capitulo 19 - As Araras do Zoologico de Madison, WI

O Michael sempre soube da minha paixao pelos animais, e do quanto eu sinto falta dos meus cinco gatos que ficaram no Brasil. Na Lawrence so temos permissao para criar peixes, e so apos aprovacao da sindica do dormitorio. Peixes, como todos sabem, nao gostam muito de ser afagados - para a minha tristeza.
No dia seguinte a festa de Halloween na State Street, ligeiramente comparavel ao Galo da Madrugada em Recife, o Michael e eu levantamos cedo para um tour pela cidade. Conheci a UW-Madison, que eh a universidade onde ele estuda; e outros pontos turisticos. A minha alegria, no entanto, foi o passeio ao zoologico.
Corri de um lado a outro, rindo com ursos polares, e girafas africanas. Pulei de alegria na casa dos repteis, achando tudo muito interessante. Encontrei capivaras, flamingos, e leoes - mas nada se comparou a casa dos passaros, quando encontrei a placa "Passaros Brasileiros".
- Passaros do Brasil! - exclamei, deixando o Michael para tras e correndo a me aproximar das arvores. Os animais gritavam enlouquecidos, meio esganicados, assustando uma garotinha la pelos seus seis anos. "Veja, eles sao bonitos, sabem falar..." explicava a mae dela.
Quando o Michael finalmente me encontrou eu estava certa de que poderia surpreende-lo com a surpresa de passaros falando em Portugues.
- Oi, caras, tudo bem? - exclamei para os papagaios diante de mim.
- Hello - disse um deles. Cruzei os bracos, aborrecida.
- Voce eh brasileiro. Fale em Portugues. POR-TU-GUES. Vamos...
O Michael, ao meu lado, falou em Ingles com o passaro, que prontamente o imitou:
"How are you?".
Decepcionada com os passaros brasileiros, que nao me reconheceram como compatriota, puxei o Michael pela manga da camisa em direcao a saida. Todavia, ja perto da porta, ouvi um grito inconfundivel do bichinho com o qual eu estivera tentando conversar:
- Oi, arara!!!
Dei um pulo de alegria. - Ouviu? Ele falou em Portugues!!!
O Michael so fez rir. E na hora de ir embora, porque meu onibus iria partir de volta a Appleton em 1 hora, praticamente chorei e agarrei-me aos portoes do zoologico (nao, isso nao aconteceu - mas nao faltou vontade) como se crianca fosse outra vez.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Capitulo 18 - A Chuva

Ha umas duas semanas o Michael veio me visitar. Engracado encontra-lo me esperando sentado na biblioteca do predio de Humanas, onde eu estava na minha aula de Arabe. Ve-lo entre todos aqueles quadros com fotografias dos meus caros Lawrentians da turma de 1800-e-la-vai quase o fez parecerer como um dos nossos.

Fomos assistir a apresentacao de tres bandas, e no retorno ao campus comecou a chover. Coloquei o capuz do casaco na cabeca, e ele ficou olhando para o ceu, aborrecido com S. Pedro.

- Ah, chuva. Eu detesto quando chove! - resmungou.

- Por que? - perguntei, imediatamente lembrando da minha chuvosa Recife.

- Porque... porque...

Ele estava sem palavras. Decidi dar uma ajudazinha indicando a razao mais obvia para tamanho desagrado com as nuvens cinzentas.

- Porque arruina o meu cabelo.

- Isso! Eu detesto a chuva porque arruina o seu cabelo - e sorriu um daqueles queridos sorrisos largos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Capitulo 17 - Andando Pateticamente




Na vida a gente conhece umas pessoas que acabam inspirando a gente. Aqui na Lawrence nao foi diferente. Quando eu vi o Sanjay Seth pela primeira vez eu sabia que ele se tornaria um grande amigo, mas no fundo nao fazia ideia da diferenca que ele faria na minha vida.


Certa vez, antes de voar para o Texas, ele me disse:


"Rebecca, va fazer alguma coisa com a qual voce nao se sentiria totalmente confortavel, como cantar. Va ter uma aventura!".


Naquela noite voltei para o meu quarto e pensei com os meus botoes. E nao eh que ele esta certo! Eu seguiria o conselho do meu amigo e voltaria no tempo para a epoca em que eu me descobrira escritora. Inspirada pelas palavras do Sanjay comecei a escrever o livro que daqui a alguns dias submeto a publicacao no Brasil.


Hoje a noite, voltando do refeitorio com ele, o Sanjay teve a ideia de criar uma nova modalidade de caminhar. "Isso, vamos andar de maneira patetica!", disse ele, iniciando uma coreografia definitivamente digna dos zumbis do Michael Jackson em Thriller -- e depois trocando para ares de Hugh Grant em Love Actually.


Quem me conhece bem sabe que eu segui rindo, preocupada com toda a atencao que ele estava chamando no caminho para Ormsby (sim, moramos no mesmo dormitorio), mas afinal de contas la estava mais um ensinamento do americano filho de indianos.


Por que se preocupar tanto com o julgamento alheio?


...ate arrisquei o passo "corrida de obstaculos imaginaria", mas de maneira muito comedida. Ai, ai... ainda tenho muito o que aprender.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Capitulo 16 - Aprendendo Sobre Eu Mesma

A vida na Lawrence eh bastante corrida. Nao que tenhamos vinte atividades para realizar num so dia (..e, as vezes, sim). A verdade eh que, por morarmos na instituicao, as aulas exigem bem mais do que o contexto sala de aula. Aprender numa manha nao eh suficiente -- os professores nos informam os horarios em que estarao nos escritorios deles para que possamos ir discutir assuntos inacabados, ou buscar consultoria em algum projeto ou redacao. Eh uma atitude altamente encorajada por aqui.
Os professores tambem passam muito tempo conversando entre si sobre os alunos. Porque nao basta que voce se saia bem na aula de um... precisa ter o mesmo bom desempenho nas classes de todos os outros. A minha adviser na Lawrence eh a professora Hoffmann, professora de Literatura, e a melhor amiga dela eh a professora Barrett, que foi minha professora de Analise Literaria. Certa vez a professora Barrett contou-me que elas duas ficaram ansiosas quando souberam da chegada de uma aluna brasileira ao departamento de Ingles (a prof. Barrett havia sido aluna de intercambio no Brasil ha muitos anos), e que desde entao conversavam muito ao meu respeito. Sobre o que falam eu nao faco ideia. Mas o fato da professora Barrett ter me dito que elas duas me adoram eh um ponto ao meu favor.
Todo o corpo doscente espera muito dos alunos. No outono conheci o professor Verita, que me encara como uma apaixonada pela Lingua Arabe e lider da turma (...e que reclama se eu atraso algum exercicio); tambem tive o prazer de estar na turma da professora Barrett, que me ensinou a escrever novamente, e apresentou-me a Henry James.
No inverno conheci o professor Peterson, que surpreendeu-me por saber o meu nome. Ele deve ter uns setenta anos, e de constituicao fisica me lembra o meu avo Arnaldo. As aulas dele me fazem refletir acerca de mim mesma muito mais que qualquer outro professor ja conseguiu -- eh como se aos poucos eu estivesse redescobrindo a mim mesma, e ele sabe que eu tenho muito a oferecer. Em O Holocausto vou compreendendo nuances da minha propria cultura, e deitando ideias no papel que possuem um significado maior para mim.
"Voce eh judia?", perguntaram-me mais de uma pessoa apos ouvir-me falar sobre o assunto.
Nao... Ou melhor, parte de mim eh. Sei que tenho parentes distantes em Portugal que sao. Sei tambem que pareco-me com eles. Sei que a minha familia eh originalmente judia. E como eu ainda nao havia parado para sentir esse pedaco de mim? Esta ai a razao para a minha imediata identificacao com Anne Frank, quando aos doze anos a li pela primeira vez e nem ao certo sabia o significado da palavra holocausto?
A cada dia vou aprendendo um pouco mais sobre mim mesma...

Capitulo 15 - Pegadinhas de Sabado a Noite


Michael e eu nao moramos na mesma cidade. Estou em Appleton, e ele em Madison - uma viagem de 2 horas de carro. Uma ou duas vezes no mes ele vem me visitar; e passei o Halloween por la.

O fato eh que mesmo ligeiramente distantes ele eh o meu melhor amigo, e a unica maneira que conhecemos de diminuir as fronteiras eh pela internet. Sempre foi assim, na verdade. E embora contemos a todo mundo que nos conhecemos no Marrocos, a verdade eh que num dia de sorte, ha alguns anos, nos conhecemos online -- e, quem diria, eu vim parar numa universidade perto da dele.

Sabado a noite e ambos ocupados. O bate-papo do email ligado para servir como um "Estou aqui caso voce precise de apoio moral". La pelas 10:00P.M. a minha inspiracao ja havia acabado (eu estava escrevendo desde cedo), e ele nao aguentava mais estudar. Decidimos jogar alguma coisa online para relaxar.

Ele encontrou um site com jogos para multiplos jogadores. Era bastante simples -- entravamos no jogo como convidados (Guest 1459, ou Guest 4886, e por ai vai). O Michael escolheu um jogo de cartas, disse em qual sala online estava, e qual Guest era ele para que pudessemos jogar juntos. Segui os procedimentos, jogamos, e eu perdi.

Da segunda vez, aborrecida por um pedido meu que ele nao havia atendido, decidi aprontar com o meu amigo. Uma pegadinha de sabado a noite que na verdade nao foi premeditada, mas surgiu no calor do jogo:

A minha conexao havia caido ou algo parecido, e quando eu retornei a sala de jogos online o Michael nao sabia se era eu. Ele clicou no Guest (que por sinal era eu) no impulso, achando que estava falando comigo -- porem rapidamente compreendeu que poderia estar enganado, e disso tudo surgiu minha ideia.

Ele disse..: ...Becca?

Eu, brincando: Nao, cara.

Ele: Ah, voce deve estar cheio de interrogacoes agora. Foi mal ae!

O Michael ja ia encerrar o jogo com a pessoa que nao era eu (mas era eu, sim). Decidi voltar atras, rindo, e dizer a ele que era eu sim, e que poderiamos comecar o jogo. Mas quem disse que ele entendeu...?

Eu: Nao, sou eu!!!!

Para o Michael foi alguem tentando se passar por mim. Entao disse:

"Nao, nao. Ate logo, amigo!".

Curto e grosso. Deixou a sala de bate-papo do jogo sem ao menos deixar a pessoa se despedir. Eu, evidentemente, tive um ataque de risos. No bate-papo do email expliquei a ele que era eu. "O QUE? ERA VOCE?!!".

Pegadinhas de sabado a noite fazem a minha alegria..! Obrigada, Michael!



domingo, 8 de fevereiro de 2009